Manoel Netto

Designer de Produtos Digitais

Tudo é Design (e isso importa mais que você imagina)

O design das coisas cotidianas

Eu sei o que você está pensando. Mais uma daquelas frases de efeito tipo “tudo na vida é química” ou “tudo é física”, como diziam os professores reclamões do segundo grau? Era quase uma briga filosófica entre as aulas, cada um defendendo – e com argumentos válidos – o seu ponto de vista. E se eles podem, eu também.

Então afirmo, na vida, tudo é design.

Antes que alguém torça o nariz achando que estou reduzindo o conceito de design a “fazer algo bonito”, vamos alinhar: design é, essencialmente, a capacidade de projetar soluções para problemas, equilibrando forma, função, contexto e experiência. É pensar em como algo pode funcionar melhor, ser mais intuitivo, mais eficiente ou mais significativo. Quando você olha a realidade por essa lente, percebe que não existe nada que não seja, de alguma forma, fruto de design.

O design da vida

O corpo humano é uma das maiores obras de design que existe – e não teve agência, briefing ou brainstorm. Nosso coração é uma bomba que trabalha sem parar desde o primeiro segundo de vida até o último. Os olhos têm um sistema de foco automático que nenhuma câmera de celular conseguiu reproduzir de forma tão eficaz. O DNA é um manual de instruções comprimido em quatro letras que dão conta de gerar tudo: das suas características físicas até predisposições emocionais.

E se você acha que isso é “natural demais para ser design”, pense de novo: a natureza é o mais antigo e sofisticado laboratório de design que existe. Abelhas constroem colmeias em forma de hexágonos porque essa é a figura geométrica que garante máxima eficiência no uso da cera e do espaço. Pássaros moldam ninhos de diferentes formatos conforme a necessidade de proteção ou camuflagem. Tudo isso é design aplicado para resolver problemas concretos de sobrevivência.

O design das coisas

Olhe ao redor. A cadeira em que você está sentado foi pensada para equilibrar ergonomia, custo e durabilidade. O semáforo que organiza o trânsito é design puro, aplicado à convivência urbana. Até uma colher é design: há séculos alguém projetou uma forma que serve para levar líquidos da tigela à boca, sem derramar no caminho.

Na engenharia, então, o design é onipresente. Pontes, edifícios, veículos, ferramentas – tudo envolve decisões de proporção, usabilidade e impacto. Não basta erguer concreto e aço: é preciso pensar em como pessoas vão circular, em como a estrutura vai resistir ao tempo e até em como vai se integrar ao ambiente.

Design invisível

O app que você abriu veio de uma hierarquia de design. Cada aplicativo que você usa tem camadas e camadas de design. Existe o design da arquitetura de software, que define como as informações vão fluir. Existe o design da interface, que decide onde colocar cada botão. E existe o design da experiência, que garante que pedir comida por aplicativo leve segundos em vez de minutos de frustração.

O mais curioso é que, quanto melhor o design, menos você percebe que ele está lá. Você não pensa no botão de ligar do celular, simplesmente usa. Você não reflete sobre a barra de pesquisa do Google, simplesmente digita. O design “desaparece” porque funciona.

O design que você faz (sem saber)

E antes que alguém diga: “ok, mas eu não sou designer, isso não tem a ver comigo”, pense de novo. Quando você organiza sua geladeira para caber tudo e ainda conseguir achar as coisas, está fazendo design. Quando monta um prato equilibrando cores e sabores, também. Quando decide como vai contar uma história para convencer alguém, está desenhando uma narrativa.

Até o jeito que você arruma a sala para receber visitas é design: luz, disposição dos móveis, música ambiente, tudo isso cria uma experiência. O mesmo vale para as roupas que escolhe, o feed que curadoria nas redes sociais, a forma como apresenta um trabalho.

Design não é exclusividade, é atitude.

No fundo, o design é a arte de viver com intenção. De pensar antes de agir. De projetar algo que faça sentido no tempo e no espaço. Por isso, quando digo que “tudo é design”, não é exagero. É apenas uma constatação de que o mundo é moldado por escolhas de forma, função e propósito – e que nós participamos desse processo o tempo todo.

A grande questão é: você está vivendo no modo aleatório ou está desenhando a sua vida com propósito?

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