Essa semana eu li um post no LinkedIN e me incomodou um pouco não somente a mensagem em si, mas o fato de que dezenas de pessoas comentaram concordando cegamente, sem questionar um pouquinho, sem refletir — ou seja — reafirmando a mensagem do post.
A mensagem era um depoimento pessoal (não sei afirmar se era uma fanfic, já que rola demais isso por lá) de alguém que seguia uma rotina diária muito bem planejada. A pessoa dizia que teve uma folga X há alguns dias, um feriado talvez, e decidiu que iria fazer coisas que lhe dariam prazer, fora de sua rotina habitual. Acordar tarde, comer Doritos de café da manhã, procrastinar, etc. Coisas que se faz num dia como esses.
O resumo da mensagem é que ela não conseguiu. Pulou da cama no mesmo horário, o Doritos pela manhã deu-lhe azia (óbvio!) e outras coisas. Daí ela concluiu falando da importância de se manter bons hábitos e não tentar fugir deles, pois seu corpo e sua mente já estão num ritmo e vão lhe cobrar.
Me lembrou isso:
Quando estamos muito imersos em nosso trabalho, em nossa rotina, em nossos hábitos (bons ou ruins), é muito fácil não percebermos as coisas ao nosso redor. Perdemos momentos e oportunidades, simplesmente porque não levantamos a cabeça e olhamos. Simplesmente porque estamos ocupados demais fazendo o que fazemos sempre.
Isso quer dizer que ter uma rotina planejada é ruim? De forma alguma. Manter as coisas funcionando e melhorando em velocidade de cruzeiro é um objetivo que deve ser perseguido por todos. E o catch é “funcionando e melhorando”. E não estou falando de performance ou velocidade, porque quanto mais a gente repete coisas, melhores nos tornamos em fazer aquilo mais rapidamente, em menos tempo, com menos imperfeições.
Trata-se de abrir a mente para o novo
Algumas décadas atrás (me sinto um velho quando falo isso), impressão de nota fiscal era um negócio muito rentável. Exigia um controle muito grande e por isso cobrava-se muito bem pelo serviço. E como é algo obrigatório (emissão de NFs), o volume de serviço sustentou por muito tempo pequenas gráficas dedicadas exclusivamente a isso. Aí veio a NFe (Nota Fiscal Eletrônica).
A NFe não chegou de soslaio. Houve muita discussão, negociação, anúncios de prazos de implementação, durou anos até substituir as notas de papel por eletrônicas. Porém, muitas gráficas estavam ocupadas demais fazendo NFs impressas para dar atenção ao cenário em transformação. O que houve você, que leu até aqui, já sabe. Muitas empresas quebrando, fechando as portas, gerando desemprego, porque não se adaptaram. Só faziam isso. Só sabiam fazer isso. Faziam muito bem, numa performance incrível. Mas só isso.
Quando a gente não dá uma pausa, não quebra uma rotina, não para pra respirar, visitar lugares, conhecer pessoas, conversar sobre o tempo, ler as notícias, ver um filme… a gente fica imerso no que a gente sabe fazer. E como já bem disse Lulu Santos, tudo muda o tempo todo no mundo.
Quebrar a rotina é importante
Dentro do meu universo de Produtos e Experiência de Usuário, algumas rotinas de entendimento são necessárias: pesquisa, validação, teste com usuário, teste A/B, etc. São atividades necessárias para entender o ecossistema do nosso trabalho — e servem para guiar como ele será desenvolvido. Agora imagina se essas atividades são escritas em pedra?
Imagina criar uma Persona que represente nosso usuário em 2010 e estarmos usando essa mesma Persona hoje? Como eram os smartphones em 2010? E a Internet? Que tipo de site as pessoas costumavam acessar? Que computadores eram os mais utilizados? Resolução de tela? Como era a rotina diária dessas pessoas antes, durante e depois de descobrirem nossos serviços? Vocês acham que em 7 anos isso mudou ou não?
Quanto mais atividades de imersão utilizamos, mais conhecemos o nosso usuário — naquele momento. Toda nossa descoberta precisa ser revista de tempos em tempos. Todos os testes precisam ser refeitos. Todas as nossas verdades questionadas. Caso contrário não conseguimos enxergar o mundo mudando.
E isso não se trata apenas de trabalho e estabelecer rotinas mais esporádicas (você poderia pensar que rever pesquisas a cada X tempo poderia virar rotina, e tem razão). Trata-se de estar aberto para o novo, enxergar as mudanças, viver coisas diferentes, algo novo, sair da sua própria rotina pessoal e enxergar as nuances.
Não conseguiu dormir até acordar, sem despertador? Coloque uma roupa de banho e vá pra piscina, praia, clube. Ou um tênis e vá correr. Ou se mantenha na cama lendo, vendo algum filme/série no celular/notebook. Doritos deu azia? Beba Coca, vai tomar café na Padoca. Crie uma lista de coisas que você nunca fez e escolha uma pra fazer em momentos aleatórios de sua rotina. Aquela reunião foi cancelada? Vá conhecer um parque novo da cidade. Vá ao cinema no meio da tarde. Convide um colega do trabalho que você não conheça pra tomar um café e tente conhecê-lo. Arrisque.
Me diz aí nos comentários o que você faz ou vai fazer a partir de agora pra quebrar a rotina.